Árvore pode bombear para a atmosfera mais de mil litros de água por dia em vapores

Árvore pode bombear para a atmosfera mais de mil litros de água por dia em vapores





A massa de ar quente estacionada sobre a Região Sudeste, enfim, perdeu força, permitindo a entrada de frentes frias como a que chegou no último fim de semana. O enfraquecimento da massa quente também abre caminho para a atuação dos chamados rios voadores, como é chamado o ar úmido que viaja da Amazônia para todo o Brasil. O problema, porém, é que este fenômeno vem perdendo força ano após ano por causa da devastação das nossas florestas no Norte. A velocidade do desmatamento há mais de 3 mil quilômetros do Rio de Janeiro, explicam cientistas, já prejudica a incidência de chuvas por aqui.
Os rios voadores são formados na Amazônia a partir da umidade que a floresta “puxa” do Atlântico. Esta umidade cai como chuva sobre a mata. Com a “transpiração” das árvores, uma grande quantidade de vapor de água é jogada na atmosfera. São cerca de 20 bilhões de litros por dia, o equivalente a oito mil piscinas olímpicas. Eles margeiam a Cordilheira dos Andes e se desviam dela na altura do Centro-Sul do país. Quando encontram frentes frias, trazem chuvas para esta região.
UMA ÁRVORE
Mas a motosserra vem comprometendo a bomba-d’água da Amazônia. Estima-se que 47% da floresta, em sua porção brasileira, foram totalmente desmatados ou sofreram algum tipo de degradação, o que levaria décadas para ser recuperado. Pesquisador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Inpe, Antonio Donato Nobre destaca que uma árvore pode bombear para a atmosfera mais de mil litros de água por dia em forma de vapor.
“A Amazônia passou por mudanças climáticas durante muitos anos e sempre conseguiu se regenerar — lembra Nobre, autor do estudo “O futuro climático da Amazônia”.

CADA BRASILEIRO PERDEU 200 ÁRVORES POR ANO

Nos últimos 40 anos, o equivalente a 200 árvores para cada brasileiro foram decepadas na Amazônia. A parte oriental da floresta, área de expansão agrícola, é a mais vulnerável. Se há menos vapor de água na atmosfera, as chuvas podem ser cada vez mais escassas no Centro-Sul do país. No mês passado, assim como no verão de 2014, a estiagem foi agravada pela presença de um bloqueio atmosférico sobre o Sudeste, impedindo a queda de chuvas. “Esta zona de alta pressão é um paquiderme atmosférico. “Sentou”, e ninguém consegue tirá-la dali — compara Nobre. — Já se tem conhecimento de que este ano será um grande desastre hidrológico para o país. Será muito difícil fechar 2015 com um índice normal de chuvas. Professor do Departamento de Física da USP, Paulo Artaxo lembra que os rios voadores são um dos três principais componentes para a chegada das chuvas no Centro-Sul do país. “Além da umidade que vem da Amazônia, também devemos considerar aquela originária no Atlântico Sul e as frentes frias que vêm do Sul — ressalta.